quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Um olhar sobre o atual mercado do disco



Verificando a lista dos discos mais vendidos, em uma revista semanal, me deparei com uma realidade óbvia mas que me passava despercebida: pela primeira vez, em mais de uma década, não há nenhum modismo predominando na música brasileira nem uma banda arrasa-quarteirão atraindo para si todos os holofotes da mídia. De repente, um estalo: tem tudo a ver com a crise no mercado fonográfico, gerada pela pirataria generalizada e pela fácil acessibilidade à música via internet. Juntando as coisas, concluí que essa crise pode ser a redenção do próprio comércio musical.

Na lista dos mais vendidos, uma salada. O primeiro colocado é um tal Caio Mesquita – para mim, um total desconhecido. Em outras épocas, seria um ser onipresente nas rádios, capas de revista e programas dominicais de auditório. Segue-se na lista dos mais mais artistas-resquícios da moda sertaneja, do forró eletrônico e do brega paraense, além de discos que têm suas vendas impulsionadas pela mídia em TV. São os famigerados discos ao vivo e coletâneas, além da trilha da novela das 21 horas. Graças à MTV, emergem na lista Ivete Sangalo e Lenine. Graças aos comerciais freqüentes na Rede Globo, Milton Nascimento e até Nelson Gonçalves voltam a constar entre os músicos mais populares do país.

E com as vendas em baixa, artistas que têm público cativo em determinada região conseguem chegar à lista dos mais mais sem causar grande barulho. É o caso da banda paulista Inimigos da HP (para mim, mais um ilustre desconhecido). E o grande público? Neste primeiro momento, sem se ver empurrado a adotar um ídolo para a atual estação do ano, tem mesmo se apegado a nomes de um passado recente. Aí, valem também a pop Ana Carolina e os sertanejos Bruno & Marrone.

Agora, enfim, explico o que considero uma redenção no comércio da música. Atordoadas com as baixas perspectivas de vendas, as grandes gravadoras não se sentem seguras para fabricar novos modismos e astros populares, com todos os custos que isso implicaria. Assim, não interferem no processo, deixando as águas seguirem seu fluxo natural. E isso é bom. Muito bom!

É como se as gravadoras, sem saber como se adaptar à realidade da pirataria e sobretudo da popularização da música via internet, tivessem jogado a toalha. Hoje, já não praticam suas tradicionais artimanhas comerciais.

Com o público ditando os rumos do mercado, há uma pulverização de artistas. Não há mais o ídolo do momento. Há uma sensação de que todos os músicos estão em pé de igualdade. Todos podem chegar “lá”, embora sabendo que seu sucesso não será mais supremo.

Tentando enxergar à frente, tenho a impressão que, em um futuro muito breve, os discos serão meros instrumentos de divulgação. Com a acessibilidade tecnológica, cada artista poderá produzir suas próprias músicas e disponibilizá-las via internet, gratuitamente ou a preços módicos. O que valerá é se fazer notório em meio a tantas opções musicais, cativando um determinado público para manter uma agenda de shows e obter sua renda.

Assim, poderemos continuar apreciando ídolos nacionais e mundiais, mas teremos mais chances de conhecer a banda de rock do filho do vizinho. Espera! Mas isso já vem acontecendo, num processo que não deve ter mais recuo. É. Realmente vivemos um momento de transição. Oxalá a tecnologia. Oxalá a democratização da cultura.

Publicado em: www.overmundo.com.br e www.jornaldotocantins.com.br
Setembro/2006

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