quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

BBB: show da vida real?



Está começando o maior espetáculo brasileiro da “vida real”, a principal fábrica de celebridades instantâneas do país. Senhoras e senhores, entra no ar a 7ª edição do programa Big Brother Brasil, vulgo BBB, agora com novidades: a versão caliente BBB Só Para Maiores, que será exibido nas madrugadas, pela Rede Globo de televisão; e as câmeras exclusivas nos banheiros e na piscina da casa, para o deleite dos assinantes do portal Globo.com. Mais invasivo que nunca.

Os personagens da novelinha já foram apresentados. Com média de idade de apenas 25 anos, diversos sendo loiros (mesmo que oxigenados) , eles exercem profissões tão díspares como as de modelo, hostess, tradutor e produtor de marketing. Um quadro inverso à realidade brasileira, em que a perspectiva de vida é de 71 anos, negros e pardos representam 45% do contingente populacional e em que a maioria das pessoas trabalha nos setores de serviços, na área agrícola ou no comércio, segundo dados do IBGE. Em um país em que a população oscila, cada vez mais, entre pessoas subnutridas ou com sobrepeso, o programa se apega à estética da mídia, escalando integrantes de porte atlético. Todos eles. Ainda assim, o BBB é chamado de “show da vida real”!

Com certeza, o Big Brother Brasil não se assemelha em nada à minha vida. Não me pareço com aqueles personagens nem vivo confinado em uma mansão, alternando meus horários entre piscina, academia de ginástica e confabulações em grupo.

Mas resta um único alento. Numa tentativa de simular a diversidade brasileira – ou simplesmente consolar segmentos marginalizados - , foram escalados um participante negro e outro nordestino, do total de 16 integrantes do programa. A mesma fórmula das edições anteriores.

Contribuições
Em um mundo em que a influência de um artista é medida por seu tempo de exposição na mídia, e não mais por sua produção cultural, o BBB traz grandes contribuições. Em um mundo em que a curiosidade sobre a vida íntima dos famosos não para de crescer, a ponto de tornar imperceptível o limite entre o público e o privado, o BBB é emblemático.

De um dia para outro, o programa eleva um grupo de anônimos à categoria de estrelas globais. Para o bálsamo de milhões de telespectadores, pode-se acompanhar, em horário nobre, seus dramas e romances, o desenvolvimento de amizades e desafetos e até suas trocas de roupa.
Tudo isso mostrado em ângulos e closes estratégicos. Tudo editado de maneira a acentuar os traços da personalidade de cada participante, criando os personagens típicos de um folhetim. Uau! Nenhuma novela é tão convincente, tão “real”. Nenhuma revista ou programa de fofoca jamais conseguiu ser tão detalhista.

Ao público, não interessa que a fama destes personagens seja passageira – como é de todas as outras celebridades instantâneas (incluindo as clássicas marias-chuteiras, marias-pandeiro, as inúmeras “modelo-atriz-e-dançarina de pouca roupa” e as passistas que se destacam a cada Carnaval). O bom é devorá-las. A digestão é rápida, mas logo é oferecido o prato seguinte.

Publicado em: www.overmundo.com.br
Janeiro de 2007

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