quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Gorilão pouco inspirado



Dirigido pelo neozelandês Peter Jackson - o mesmo da cultuada triologia Senhor dos Anéis -, o remake de King Kong, em cartaz mundial desde o último dia 16, reproduz com fidelidade a ambientação americana dos anos 30 em que o filme original foi rodado (1933). Os créditos iniciais e finais também remetem às antigas películas americanas, imprimindo certo charme à nova versão cinematográfica sobre o gorila mais famoso de Hollywood. Aliada a efeitos especiais eficientes e a pequenas doses de humor, essa tentativa em reavivar a antiga atmosfera é o grande mérito do filme, mas não avança muito além.

A nova versão do clássico erra ao atribuir o gorilão as qualidades típicas dos mocinhos de cinema daquela época: o romantismo e a disposição em lutar pela amada. Como as platéias não têm mais a inocência de outrora, desdenha de cenas como a que King Kong induz sua amada (a atriz Naomi Watts, de O Chamado), a apreciar, silenciosamente, um pôr de sol radiante sobre a montanha. Pelo mesmo motivo, ganha aspecto de humor involuntário a longa seqüência de luta entre o gorila e um bando de tiranossauros rex.

Isso mesmo, o gorila de 7 metros de altura é um dos personagens mais humanizados do filme e nutre um amor puro e assexuado por uma mulher. Na Ilha da Garganta, seu habitat natural, Kong convive com diversas espécies de dinossauros, além de insetos gigantes e aborígenes, em plena década de 30. São elementos difíceis de se digerir, muito menos se inserido num roteiro pouco inspirado, que tenta mesclar características de cinema antigo e superprodução.

Durante quase três horas, as esparsas qualidades do filme se perdem em meio a estes clichês hollywoodianos. E em King Kong, os clichês se amontoam, estando presentes tanto os típicos do gênero de ação quanto dos romances de maior apelo comercial.

Até a existência de parte dos personagens do filme está calcada em lugares comuns, a exemplo do diretor de cinema ávido pelo sucesso, do escritor/roteirista arrebatado repentinamente pela paixão e do jovenzinho que amadurece em meio a uma aventura na selva.

Ainda assim, King Kong estreou bem nas bilheterias - mesmo ficando abaixo das expectativas – pois diverte o grande público, adepto a filmes de entretenimento badalados e cheios de efeitos especiais. É um filme que se digere tão rápido quanto a pipoca que o acompanha e que, ao final, tem seu pacote descartado na lata de lixo.

Publicado em: http://www.jornaldotocantins.com.br/
Dezembro/2005

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