quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Não sou Homer Simpson



Quando pensei que, com a derrota patética do Brasil na Copa do Mundo, eu poderia voltar a assistir normalmente os telejornais, me deparei com mais e mais notícias sobre futebol. Tudo bem! Seria questão de esfriar a cabeça e esperar por mais alguns dias, até que a Copa se encerrasse. Enfim, a final. Acabou? Que nada! Na ressaca de informações, o mundo inteiro se volta a uma questão: como o craque Zidane pôde perder a calma e encerrar sua carreira dando uma cabeçada no adversário.

A imagem da cabeçada é repetida a exaustão na TV e na internet, como se nada mais importante estivesse acontecendo em todo o planeta ou neste nosso país de dimensão continental. Foram muitas as especulações sobre o porque do destempero do jogador. Mais notícias: amanhã, o craque se explicaria. No dia seguinte, Zidane se justificou. Nesse meio tempo, Cafú e os Ronaldos - o craque e o “fenômeno” - dão suas versões sobre o fiasco da seleção, enquanto os brasileiros assistem, revoltados, as imagens de italianos comemorando a vitória. Parece ser o final do enredo da Copa do Mundo e, enfim, é mesmo. Mas logo vem a notícia: acabou o mundial e recomeça o Campeonato Brasileiro. Em dezembro, saberemos quem será o vitorioso. Putz!

Não gosto de futebol. Tudo bem, reconheço que sou uma exceção à regra. Mas sei que tenho direito a uma programação plural e de qualidade, afinal TVs e rádios são concessões públicas e têm que estar à serviço da população, contribuindo com sua formação cultural. E repare que não estou sendo muito exigente, pois estou falando apenas da cobertura jornalística, sem citar aqui os programas de auditório, novelas e enlatados.

Sem querer correr riscos, apostando na criatividade e na difusão de novos valores sociais e de comportamento, a TV apenas tem reproduzido o senso comum. Assim, o telespectador não se irritaria, migrando para outros canais. Infelizmente, o telejornalismo também vem sendo produzido sob este mesmo conceito. Deste modo, se o telespectador gosta de futebol, futebol nele.
Recentemente, um editor de telejornal disse, em reunião com sua equipe, que é necessário pensar a produção da notícia lembrando que o telespectador médio do Brasil lembra Homer Simpson, personagem da série americana “Os Simpson”. Homer, além de bonachão, é folgado e não possui o mínimo senso crítico.

Não sou Homer Simpson! Quero assistir a um jornalismo mais complexo e sei que todos têm direito a isto – não apenas os brasileiros com senso crítico superior ao da média nacional, pois fazendo o povo pensar é que se forma uma nova sociedade. E também chega de menosprezar a inteligência do brasileiro mediano. Todos estamos prontos para receber mais do que nos tem sido oferecido.

Publicado em: www.jornaldotocantins.com.br
Julho de 2006

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