quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Oh my dog!



Deus. Só quatro letras, mas uma palavra de subjetividade infinda. Criador de tudo, condutor de todos os destinos. Do surgimento do universo ao trajeto de uma nuvem, nada lhe escapa. Nem mesmo um gesto ou um pensamento nosso. Hum, que “Paranóia”!, como já falou Raul Seixas. “Minha mãe me disse há tempo atrás/ Filho onde cê for Deus vai atrás, Deus vê sempre tudo que cê faz/ Mas eu não via Deus, achava assombração”. Irônico o maluco beleza, e estou com ele.

Sinceramente, não imagino como alguém, com o mínimo senso crítico, possa acreditar em tal onipresença, ainda mais em um mundo que parece desgovernado. Sei não, mas se esse cara tá no comando de tudo, ele deve ter entrado na bandalheira política, porque a coisa por aqui tá feia. Ou será que ele não administra, que tá no pedaço apenas para nos julgar, sempre com o dedo em riste na nossa cara e anotando tudo o que fazemos em seu caderninho, para que, no dia do juízo final, possa dar seu parecer sobre a conduta de cada um? Ou seja, um deus a quem devemos temer, obedecer e, como diz uma colega, nos “prostrar aos seus pés”.

Na falta de um contato direto com este deus, devemos ouvir seus representantes na Terra. Por aqui, entre outras sandices, estes homens dizem que sexo só se for pra procriar e que devemos nos resignar com nossas mazelas, pois o sofrimento é um dos meios para garantir a salvação eterna.

Mas só “ele” sabe em que medida devemos sofrer, e, portando, pode julgar se merecemos algum alento. Assim, se falta comida, é levar as mãos ao céu e os joelhos ao chão! Em caso de doença, também. Para comprar um carro, abrir uma empresa, acertar na loteria e se tornar milionário, também vale pedir sua “mãozinha”. Se formos maus, ele nos manda à fogueira, mas se formos bons meninos pode nos recompensar com qualquer sorte de graça ou bens de consumo. Para agilizar o processo de pronta-entrega, podemos pedir diretamente a um de seus intercessores: os santos. E há padroeiros para todos os tipos de causa, ao gosto do freguês.

Em termos de mentalidade coletiva não evoluímos muito, se comparado aos nossos ancestrais, que ofereciam seres humanos em sacrifício para obter uma boa colheita. Ainda hoje, em religiões africanas, é comum a matança de animais-oferendas. Em outras, os fiéis apenas pedem, fazem promessa ou dão uma parcela de seus rendimentos à igreja, em troca de alguma recompensa.

Antigamente, não sabíamos qual o ritmo das marés nem a causa dos eclipses, o que era atribuído a variações no humor das entidades divinas. Hoje, ainda não sabemos afirmar categoricamente qual a origem do universo e atribuímos tal fato ao sobrenatural.

Alguns dos representantes deste ser a quem chamam deus ainda renegam a óbvia e ululante Teoria da Evolução, de Charles Darwin, assim como, um dia, negaram a hipótese da Terra ser redonda. Rejeitam o uso da camisinha, o debate sobre a legalização do aborto, o planejamento familiar e o segundo casamento. Pior que isso, metem o bedelho nas pesquisas científicas e tentam interferir no papel do Estado, não se contentando com as atribuições que lhes cabe como guias espirituais. Tentam boicotar pesquisas com células-tronco, clonagens e outras revoluções inegáveis para a humanidade, sem oferecer nada de prático em troca.

Alguns fiéis seguem à risca ou preceitos da religião que congregam, dando aval a toda sorte de asneira. Outros não! Pinçam, entre os dogmas, aqueles que estão ao seu sabor. É a religião “self-serviçe”, com os temperos e a medida desejada por cada um. Quando abusam daquele prato, partem para outro. Por mais que pareça uma descrição pejorativa, entre os não ateus é destes que mais gosto - os não bitolados, que se permitem experimentar. É, nas trevas das religiões, um ponto de luz, liberdade e leveza.

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