quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Para Vanessa da Mata diga “Sim”



Generosa em elogios aos seus colegas de trabalho, Maria Bethânia sentenciou há pouco tempo: “Vanessa da Mata precisa ser reverenciada, adulada. Ela é o novo Guimarães Rosa do Brasil”. Exageros à parte, o aval da primeira-dama da MPB tem sentido, pois desde o surgimento de Adriana Calcanhotto, no inicio da década de 1990, era esperada uma outra cantora popular tão cheia de estilo.

Seu talento, a matogrossense mostrou já na estréia, em “Vanessa da Mata” (2002), um álbum intimista – ainda o melhor de sua carreira. No segundo disco, “Essa boneca tem manual” (2004) ela se reinventou e conseguiu provar que pode existir inteligência no universo Pop. Mas foi com a pior faixa do disco, a radiofônica “Ai ai ai...” que Vanessa alcançou o auge da popularidade e se tornou detentora da música nacional mais executada nas rádios, em 2006. Agora, com “Sim” (2007), seu terceiro disco, Vanessa consolida a carreira ao mostrar que não está amarrada a gêneros musicais. Apenas a coerência é seu guia.

No novo disco, da Mata retorna às origens – de quando foi vocalista das bandas de reggae Shalla-Ball e Black Uhuru – e grava, pela primeira vez, o ritmo jamaicano. E são logo três canções: “Vermelho”, que abre o disco, com potencial para se tornar um grande hit; a ecológica “Absurdo” e “Ilegais”. Baladas, também são três: “Amado”, “Meu Deus” e “Minha herança: uma flor”, esta, de extrema beleza e sensibilidade, quebra a festividade marcante dos arranjos e fecha o álbum com um intimismo que chega a doer. Só o próprio violão de Vanessa acompanha sua voz, quase sussurrada, como se ela murmurasse ao pé do nosso ouvido. Detalhe: é a primeira vez que a cantora, rudimentar em suas técnicas, toca um instrumento musical nos próprios discos. Mas a emotividade supera deficiência das poucas notas ao violão.

Em “Sim” há espaço para a disco music, na ótima “Você vai me destruir” – também um possível grande sucesso -, em que a cantora exibe uma rara interpretação dramática. Os sambas também estão presentes, nas espirituosas “Fugiu com a novela” e “Quando um homem tem uma mangueira no quintal”. Até uma rumba está presente em “Sim” (Pirraça), isto sem falar no Pop de “Boa Sorte/Good Luck”, primeira faixa de divulgação, cantada em dueto com o norte-americano Ben Harper. A canção foi a mais executada nas rádios do Rio de Janeiro, entre 11 e 15 de junho.

Neste disco (produzido por Mário Caldato e Kassin), se Vanessa da Mata não consegue repetir a delicadeza e o preciosismo das composições de seu primeiro álbum, ao menos ela está bem mais diversa que em “Essa boneca tem manual”. A cada novo disco, novos méritos. Agora Vanessa da Mata nos prova também que a inteligência pode estar associada ao grande varejo da música e que, sim, ela veio pra ficar.

Publicado em: www.overmundo.com.br e www.ogirassol.com.br
Junho de 2007

Nenhum comentário:

Postar um comentário