quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Sobre saudades e futuro



Sou Flávio Herculano. Um cidadão, contribuinte com a União, Estado e município. Para a Justiça Eleitoral, INSS, Ministério do Trabalho e para uma infinidade de órgãos públicos sou apenas uma seqüência de números. Para os bancos, um valor financeiro. Para as Forças Armadas, um excesso de contingente. Para o Judiciário, um civil de ficha limpa. Para os meus amigos, acredito ser um cara boa praça e confiável. Sou um profissional - para mim, esta é, hoje, minha característica predominante.

Gosto de ser Flávio Herculano. Sou este já há quase cinco anos, quando abracei meu ofício e comecei a assinar como Jornalista. Foi com este nome que cheguei em Palmas, que me tornei conhecido entre os meus de agora, que tenho amadurecido, conseguido autonomia e aprendido a enxergar a simplicidade da vida.

Mas tenho saudades de ser apenas Flávio, aquele estudante de poucas preocupações, que todos os dias adentrava o mar e lavava a alma, que descobria com grande entusiasmo a beleza da música e das artes, que transitava pelo circuito universitário e se sentia liberto, apesar de melancólico. Como Flávio, aparentemente, um mundo estava a me ser revelado. Tudo parecia estar prestes a começar. Mal sabia eu que a vida se desenvolvia e tinha, então, uma beleza única.

Tenho saudades também de ser Flavinho, aquele menino do sertão que corria de bicicleta toda a cidade, que brincava com os amigos por horas seguidas sem notar o passar do tempo, que tinha o abrigo da família sem percebê-lo. Como Flavinho, já achava a vida complicada, sem compreender a naturalidade com que desfrutava os acontecimentos. A vida tinha, então, uma beleza única.

Fui Flavinho em Itaporanga, no sertão seco da Paraíba. Fui Flávio em João Pessoa, curtindo a brisa do litoral. Agora sou Flávio Herculano, no calor torrencial de Palmas, no Tocantins.

Amigos, nunca tive em grande número - apenas o suficiente para me sentir seguro e com as raízes fincadas neste planeta. Na infância, Samuel, Gilson e Sávio. Na pós-adolescência, Cláudio, Júlio e Vall. Na vida adulta, Rose, Ramiro e Wherberth.

Interessante pensar que os personagens destes três grupos nunca se cruzaram, como se, para isto, necessitassem romper uma barreira no tempo. Em comum, estas nove pessoas têm apenas a mim, o que, de certa forma, me faz acreditar na amplidão da vida e me sentir especial. Excetuando a mim mesmo, talvez minha mãe seja única pessoa que conheceu a todos estes amigos, o que confirma sua presença permanente em minha vida. Sem dúvida, ela é que é meu real vínculo com este universo, desde os tempos do cordão umbilical.

A todos aqui citados, meus agradecimentos. Tenho 29 anos e sou um mosaico, sou um pouco de cada um de vocês. Obrigado Carmem, Mércia, Samara, Suzana, Daianne, Tati, Thays... Vocês me fazem enxergar que, apesar dos percalços, ainda é valida a crença no ser humano. A força do justo está no feminino. Obrigado a todos que ainda estão por vir, que acrescentarão novas peças e farão de mim um novo Flávio.

Publicado em www.jornaldotocantins.com.br
Novembro/2006

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