quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O brilho feminino da MPB em 2007 - resgate de texto



Os desavisados de plantão sempre teimam com um velho discurso, de que não há renovação na música brasileira ou, pior, que os medalhões da canção foram superados pelos corpos desnudos que vêm e vão, no remelexo do calipso e da axé músic. Desligando-se dos programas de auditório da TV e ajustando um pouco suas próprias antenas, você verá que a MPB continua emitindo seus sinais de criatividade, seja com os nomes consagrados, seja com a geração que está despontando.

E, no país das cantoras, são elas que melhor sintonizam o que anda acontecendo na música brasileira. Cada uma com seu estilo e seu timbre, as mulheres fizeram de 2007 um ano de bons projetos fonográficos.

Veterana, com 41 anos de carreira, Maria Bethânia continua com o mesmo brilho, mas agora com a liberdade de trabalhar numa gravadora menor, a Biscoito Fino, que abre mais espaço à criatividade. Ela investiu num projeto conceitual e lançou dois discos simultâneos, quase integralmente de canções inéditas. Com Mar de Sophia, Bethânia deu um mergulho profundo na temática das águas do mar e na densidade dos versos da poeta portuguesa Sophia de Melo Brayner. Com Pirata, se fez soar leve e artesanal, utilizando a água doce como viés criativo. Festejada, a fase se encerrou como uma triologia, em novembro, com o lançamento do disco Dentro do mar tem rio, ao vivo.

Elba Ramalho, com 28 anos de carreira, se mostrou mais arejada que nunca. Apostou na nova geração de compositores e realizou um dos melhores discos de sua carreira, Qual assunto mais lhe interessa, sintonizado nas composições de Lenine, Lula Queiroga, Chico César, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes.

Mas foram as novatas que deram o tom de reinvenção da MPB. Ha tempos não surgia alguém como Roberta Sá, que combina uma invejável leveza como intérprete, inclinação para a pesquisa e abertura com a nova geração de compositores e músicos. Participante do reality show global Fama, ela conquistou notoriedade mesmo foi com seu segundo CD, Que belo estranho dia pra se ter alegria, talvez o melhor álbum de 2007. Sambista nata, Roberta é o ícone da renovação deste ritmo, abraçado inicialmente pelos jovens cariocas freqüentadores dos bares da Lapa e popularizado Brasil afora pelos mais descolados. Se você ainda não conhece Roberta Sá, procure por ela.

Também da seara da Lapa emergiu Teresa Cristina, se comparada a Roberta Sá bem mais contida, a lá nova dama do samba. Ela foi reverenciada pela crítica em anos anteriores e, em 2007, conseguiu espaço numa grande gravadora (EMI Music), onde lançou Delicada.

Com a carreira em risco, por soar repetitiva e engessada já no segundo álbum, Maria Rita soube se reinventar em 2007. Ela também apostou no samba. Ficou mais espontânea, perdeu os ares de diva precoce e – o que foi vital – dissociou sua imagem da mãe, o ícone Elis Regina. Com o disco Samba Meu, Maria Rita se mostrou despretensiosa, unindo ótimos sambas (como O Homem Falou, de Gonzaguinha) a outros menos inspirados, mais próximos da seara do pagode. Para quem precisava descer do salto e revitalizar-se, longe da formação baixo-bateria-piano-violoncelo, a mistura soou positiva.

Abrigada na música pop, Vanessa da Mata – que foi ofuscada em sua estréia em disco por surgir junto a Maria Rita, em 2003 – também chegou ao terceiro álbum, a prova de fogo mercadológica de todo cantor. Em Sim, Vanessa provou que é possível ser popular fazendo boa música. Juntou reggaes, baladas, disco, carimbó e pop, soando muito bem e se confirmando como uma compositora eficiente.

Fecho com Fernanda Takai, vocalista do Pato Fu, que lançou seu primeiro disco solo no final de 2007, Onde brilhem os seus olhos, visitando a obra de Nara Leão. Com tom de voz semelhante ao da homenageada, não pareceu repetitiva. Redecorou as canções com arranjos mais joviais ou transformando completamente seus ritmos, conseguindo a proeza de não violentar a concepção original das músicas. Isto, só pra citar algumas cantoras da MPB industrial, de maior visibilidade. Pesquise, faça sua lista e descubra o muito que a música brasileira tem a oferecer.

Dezembro de 2007
Publicado em:
www.overmundo.com.br e www.ogirassol.com.br

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